sábado, 12 de maio de 2012


Ex-sargento do DOI contesta Guerra e diz que ações eram restritas a militares

Para ex-analista de inteligência Marival Chaves, subordinado de Ustra que delatou execuções e esquartejamentos de presos, declarações de ex-delegado são falsas e desconexas

Raphael Gomide, enviado do iG a Vitória (ES)  - Atualizada às 
Foto: DivulgaçãoEx-sargento de inteligência Marival Chaves disse que ações do DOI eram restritas a pequeno grupo de militares
Para o ex-sargento da Inteligência do Exército Marival Chaves, que integrou o DOI do II Exército (São Paulo) nos anos 1970, as afirmações do ex-delegado Cláudio Antônio Guerra de que comandou e executou assassinatos, junto com militares, durante a ditadura “não são condizentes com a realidade”.
Segundo ele afirmou ao iG nesta quinta-feira (3), as operações de tortura e execução de presos políticos eram “restritas ao pessoal das Forças Armadas”.
“Não tinha policial militar, federal ou civil, de jeito nenhum participavam. Era apenas um grupo pequeno de pessoas que se reuniam de madrugada para fazer o que tinham de fazer e no dia seguinte se dispersavam”, disse.
Marival – que deixou o Exército em 1985, mora no Espírito Santo e se dedica a terapias naturais – notabilizou-se por uma entrevista para a revista Veja, em 1992, em que revelou que presos políticos eram torturados, mortos e esquartejados na Casa de Petrópolis, mantida pelo Centro de Informações do Exército, na serra do Rio.
O ex-sargento disse que nunca ouviu falar no ex-policial e que, se ele tivesse atuado nos episódios citados, “certamente” o conheceria – além de hoje morarem no mesmo Estado.
“Não conheço nem nunca ouvi falar nesse delegado, com todo o respeito. As coisas que ele diz não são condizentes com a realidade. Ele deve estar surtando, ficando louco. Se ele tivesse participado de algo do que diz, eu certamente o conheceria, porque era do DOI de São Paulo, precursor da Operação Bandeirantes”, disse.
A declaração foi semelhante às do coronel Juarez de Deus Gomes da Silva e de Joseita Brilhante Ustra, mulher do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI de setembro de 1970 a janeiro de 1974. 
Espírito Santo não tinha relevância no contexto da repressão, diz ex-sargento
Foto: Fábio Mota/Agência EstadoManifestantes protestaram contra reunião do Clube Militar para comemorar o golpe de 1964, no Rio
De acordo com Marival Chaves, outro fator que descredencia o ex-policial é o fato de que, durante a ditadura, o Espírito Santo – onde Guerra era delegado – não tinha relevância para a ditadura, porque não abrigava organizações da luta armada vultosas.
“O Espírito Santo não tinha nenhuma importância no contexto da repressão política. O foco estava no eixo Rio-São Paulo e Minas Gerais”, afirmou.
“Ele deve estar tendo um surto psicótico, o que diz são coisas desconexas, quem conhece o assunto dá risada. Não dê crédito a esse delegado, porque o que diz não condiz com a verdade. Vc vai escrever informações erradas", disse.
O ex-militar declarou que tem evitado fazer declarações públicas sobre a ditadura e se dedica atualmente à terapia naturista, mas disse que falará quando for chamado a depor na Comissão da Verdade, a ser montada pelo governo federal.
“Só vou atender à Comissão da Verdade. Já veio comissão de Brasília com três deputados e não os recebi. Todo mundo me liga, mas já falei muito e não adiantou nada”, disse.

“De maluco meu pai não tem nada”, diz filho de ex-delegado Cláudio Guerra

Marcelo Guerra afirma temer pela vida do pai após a publicação do livro em que conta episódios violentos da repressão na ditadura

Raphael Gomide, enviado do iG a Vitória (ES)  - Atualizada às 
Foto: DivulgaçãoSegundo o filho, delegado Cláudio Guerra "de louco não tem nada"
Marcelo Guerra, filho de 45 anos do ex-delegado do Espírito Santo Cláudio Guerra, afirmou ao iGque o pai “de maluco não tem nada” e declarou que teme pela vida dele, após as revelações que fez em depoimento para o livro “Memórias de uma guerra suja”, dos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros.
“De maluco ele não tem nada, não”, afirmou Marcelo, rindo.
iG mostrou que Cláudio Guerra conta ter participado de assassinatos e desaparecimentos de corpos durante a ditadura militar (1964-1985). Ele também afirma ter estado, com alguns militares, em reunião em que o grupo teria decidido matar o delegado Sérgio Paranhos Fleury, da DEIC (Delegacia de investigações Criminais) – morto em 1979, ao cair de uma lancha, em Ilha Bela (SP).
Os coronel reformado Juarez de Deus Gomes da Silva (Aeronáutica) e Joseita Brilhante Ustra, mulher do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, citados nominalmente, afirmaram aoiG que o ex-delegado é “louco ou está recebendo dinheiro” para fazer essas afirmações. Ustra também foi acusado pelo ex-delegado de ter participado do atentado a bomba do Riocentro, em 1981 e da morte do jornalista Alexandre Baumgarten, no ano seguinte.
"Eu estaria mentindo se dissesse que não traz risco"
Marcelo disse temer pela segurança e a vida do pai, mas confia na proteção de Deus. “Deus é que protege. Já protegeu até hoje... Mas eu estaria mentindo e sendo ingênuo se dissesse que (o livro) não traz nenhum risco de vida para ele.”
Sobre a polêmica e a repercussão que as histórias do livro vêm causando na imprensa, Marcelo fala com tranquilidade.
“As coisas que ele falou vão atingir muita gente que está viva ou até que já morreu. Cabe a ele provar o que diz e aos outros se defender ou alegar o que acharem conveniente”, afirmou.
Leia tudo sobre: memóriasdeumaguerrasuja • Cláudio Guerra • delegado • ditadura • Marcelo Guerra • filho• pai • assassinato

‘Memórias de uma Guerra Suja’: veja as revelações sobre crimes da ditadura

iG teve acesso em primeira mão a livro que, com base em relatos de ex-delegado, deve servir de roteiro para a Comissão da Verdade

iG São Paulo  - Atualizada às 
Cláudio Guerra, ex-delegado do DOPS(Departamento de Ordem Política e Social), lançou bombas por todo o país e participou, em 1981 no Rio de Janeiro, do atentado contra o show do 1º de Maio no Pavilhão do Riocentro. Esteve envolvido no assassinato de aproximadamente uma centena de pessoasdurante a ditadura militar.
livro ‘Memórias de uma Guerra Suja’, escrito com base em relatos de Guerra aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, traz revelações sobre o próprio caso do Riocentro; o assassinato do jornalistaAlexandre Von Baumgarten, em 1982; a morte do delegado Fleury; a aproximação entre o crime organizado e setores militares; e dos nomes de alguns dos financiadores privados das ações do terrorismo de Estado.
Guerra revela, por exemplo, como incinerou os corpos de dez presos políticos numa usina de açúcar no norte do Estado do Rio de Janeiro. Corpos que nunca mais serão encontrados – conforme ele testemunha – de militantes de esquerda que foram torturados barbaramente. Os corpos de David Capistrano, Ana Rosa Kucinski e outros oito opositores da ditadura viraram cinzas.
Foto: Agência PorãGuerra, ex-delegado do Dops, traz revelações sobre a ditadura em 'Memórias de uma Guerra Suja'

O ex-delegado conta ainda que o delegado Sérgio Paranhos Fleury, titular da Delegacia de Investigações Criminais (DEIC) de São Paulo e símbolo da linha-dura do regime militar, foi assassinado por ordem de um grupo de militares e de policiais rebelados contra o processo de abertura política iniciado pelo ex-presidente Ernesto Geisel. Em depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, Guerra conta ter participado da reunião em que foi decidida a morte de Fleury.
Foto: Oswaldo Jurno/AESímbolo da linha dura do regime, Sérgio Paranhos Fleury aparece em foto de 1978, em São Paulo
Participei do atentado ao Riocentro (durante as comemorações do Dia do Trabalhador, em 1981) e fiz parte das várias equipes que tentaram provocar aquela que seria a maior tragédia, o grande golpe contra o projeto de abertura democrática”, revela o ex-delegado Cláudio Guerra, do DOPS (Departamento de Operações Políticas e Socias), no livro ‘Memórias de uma guerra suja’. Cláudio Guerra conta que a bomba explodiu por engano no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário por um erro do capitão Wilson Luís Chaves Machado.
Foto: Agência O GloboNo Riocentro, bomba explodiu antes da hora do atentado e matou agente de informações do Exército
Os mesmos comandantes do atentado no Riocentro mandaram executar o dono da revista ‘O Cruzeiro’, o jornalista Alexandre Von Baumgarten, em 1982, revela o ex-delegado no livro. Segundo Guerra, ele próprio foi encarregado inicialmente do assassinato. O plano era simular uma morte natural, aplicando em Baumgarten uma injeção com a substância letal. A perícia, combinada, apontaria como causa da morte um infarto comum. Guerra conta que os assasinos de Baumgarten levaram a vítima para alto-mar.
Foto: Arquivo Agência EstadoProtesto contra a censura à imprensa e a perseguição de jornalistas, meses antes do AI-5
O ex-delegado do DOPS também revela no livro que se disfarçou de padre para tentar assassinar Leonel Brizola, fundador do PDT e um dos líderes da resistência contra a ditadura militar. O disfarce era uma estratégia para responsabilizar a Igreja Católica pelo atentado. Segundo Guerra, a operação foi comandada pelo coronel de Exército Freddie Perdigão (Serviço Nacional de Informações - SNI) e pelo comandante Antônio Vieira (Centro de Informações da Marinha - Cenimar), os mesmos militares que, segundo ele, estiveram à frente do atentado no Rio Centro. Brizola sofreu uma tentativa de assassinato no Hotel Everest, no Rio de Janeiro, em 18 de janeiro de 1980, quatro meses depois de chegar do exílio. Uma bomba foi deixada na porta do apartamento do líder de esquerda, mas desativada em seguida.
Foto: AEBrizola (5º na foto da esq. para a dir.) aparece ao lado de Tancredo e Montoro em comício das Diretas
O coronel-aviador reformado Juarez de Deus Gomes da Silva e Joseita Brilhante Ustra, mulher do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, afirmaram ao iG que vão processar o ex-delegado do Dops do Espírito Santo. O ex-policial afirma no livro que ele, os dois coronéis e outros militares tramaram a morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury, titular da Delegacia de Investigações Criminais (DEIC) de São Paulo.
Foto: AECitado por Guerra no livro, o coronel reformado Ustra promete processar o ex-delegado

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