sexta-feira, 11 de maio de 2012


Um gosto popular

9 de maio de 2012 por Admin       Total caracteres: 4599Faça seu comentário »
José Márcio Mendonça*
“Mal almada” até pouco tempo pelas centrais sindicais – mesmo a petista CUT, tinha dela muitas queixas – e, ao mesmo tempo, pelo menos em manifestações públicas, “queridinha” da maioria dos setores empresariais, a presidente Dilma Rousseff dá sinais claros de que quer se aproximar dos trabalhadores, com medidas de cunho popular (o que não quer dizer populistas). 
A irritação dos sindicalistas com a presidente, na ótica deles, estava fundada na falta de atenção por parte da presidente – diferentemente de Lula, que dava afago aos velhos companheiros – Dilma passou o primeiro ano sem abrir o Palácio do Planalto especialmente para eles nem foi dada a salamaleques. E também na dureza de medidas oficiais, como a recusa da presidente em atender reivindicações dos trabalhadores, a começar pelos aumentos para o funcionalismo público, generosos durante toda a administração de seu antecessor. 
Por razões que a própria razão ainda não explica, talvez porque houvesse no ar mais sérias ameaças de rodadas de greve por todo o país, inclusive no setor oficial, talvez porque a proximidade eleitoral derreta os mais duros corações de pedra político, talvez porque a presidente, em algumas cruzadas, como a contra os banqueiros por juros mais módicos na praça, ou talvez pela soma de tudo isso, a verdade é que a presidente está “discutindo” sua relação com o mundo sindical. 
Não há nenhum juízo de valor nessas atitudes, se são corretas ou incorretas do ponto de vista técnico, se estão vindo na hora certa, se estão atrasadas ou se estão sendo precipitadas – o fato é que, a dura Dilma, a mulher que se pauta apenas pela racionalidade técnica, que não faz a política comum com gosto, está com um discurso e um curso de ação mais popular. Às vezes de fazer inveja ao próprio Lula. 
Dilma não está mais apenas a “franquear” o Palácio aos líderes sindicalistas, recebendo-os para reuniões exclusivas, como ocorreu ontem. A interlocução sindicatos-governo não fica mais restrita ao esvaziado Ministério do Trabalho e ao secretário-geral da Presidência da República, o ministro Gilberto Carvalho. A própria nomeação de Brizola Neto para o ministério nas vésperas da festa de 1º de Maio teve esse sentido de dar satisfações aos sindicalistas. Eles consideravam um desprezo e um desprestígio a pasta “deles” ficar quase seis meses com um interino tão desconhecido que apenas os mais próximos sabiam o nome. 
Há mais, objetivamente: o governo aceita a velha proposta das centrais sindicais de mexer no Imposto de Renda cobrado sobre a Participação no Lucro e Resultados (PLR) das empresas.
Já não está mais obstruída a discussão no Congresso sobre o fim (ou pelo menos alterações profundas) no fator previdenciário, outra antiga reivindicação dos sindicalistas.
Não com a mesma ênfase, o governo já passa a admitir também não bloquear inicialmente no Congresso Nacional o debate sobre a redução da jornada de trabalho de 44 horas semanais para 40 horas. 
O primeiro já é uma decisão. Os dois outros foram levados ao debate, com acenos positivos para o lado dos trabalhadores, por Gilberto Carvalho e pelo novo ministro do Trabalho, Brizola Neto, nos palanques de 1º de Maio. Empolgação à parte, os dois não falariam no assunto se não tivessem sinais de concordância da presidente Dilma, principalmente o experiente secretário-geral da Presidência. Novidades nesse campo ainda poderão ser lançadas, como balão de ensaio para acalentar os sonhos das centrais de voltarem aos bons tempos de Lula. 
É verdade que entre essas demonstrações de boa vontade da presidente e a concretização das propostas em debate vai uma certa distância e um bom consumo de tempo. Dilma, porém, pode estar adquirindo simpatias dos sindicalistas para outras medidas que ela precisa pôr no campo e não sabem bem ao paladar dos trabalhadores. Entre elas, a anunciada alteração na remuneração das cadernetas de poupança e uma flexibilização nas normas de negociações de acordos trabalhistas. 
A presidente parece estar adquirindo traquejo na arte da política. Como se diz popularmente: dá uma no cravo, outra na ferradura. 
*José Márcio Mendonça é jornalista e analista político
Publicado por:  Diário do Comércio

Nenhum comentário:

Postar um comentário