domingo, 13 de maio de 2012


Carmem Mayrink Veiga: "Os cariocas têm é desrespeito contra quem vive em cadeira de rodas."
Pode prestar atenção: em muitos restaurantes e hotéis do Rio, são vistas rampas para cadeiras de rodas, muitas delas, bem recentes. É sabido que isso se deve ao empenho de Carmem Mayrink Veiga, o maior nome social do País desde a década de 50, que sofre de paraplexia tropical, doença que limita muito os movimentos das pernas.
Há mais ou menos cinco anos, Mayrink Veiga só sai de casa em cadeira de rodas. Desde então, sua dedicação é absoluta ao assunto, o que tem feito uma certa diferença para os 47 mil cadeirantes cariocas.
Isso mudou a vida de Carmem, é fato, mas não comprometeu sua vaidade, sua agenda, sua informação – ela sabe de absolutamente tudo que acontece seja no Rio, seja em Paris, seja onde for. O senso de humor e a sinceridade continuam os mesmos – depois do meio-dia, que fique claro; antes disso, a chance de ela acordar é zero. Leia sua “Invertida”.
UMA LOUCURA: “Acho uma loucura essa invenção de que tudo é feito por máquina. Acabou o ser humano? Tudo vai virar robô? É tudo “ai”, ipad, iphone etc. Ai, ai, ai!”
UMA ROUBADA: “Roubada é comprar um sapato que é uma delícia na loja e, quando chega em casa, descobrir que machuca.”
UMA IDEIA FIXA: “Nunca tive uma ideia fixa porque sempre tive tudo na vida; então não precisava disso. Duas coisas que eu queria e não tive: ganhar a mega-sena por menor que fosse o valor e um jatinho Gulfstream, o mais bonito de todos. Só tive jatinho desses que todo mundo tem.”
UM PORRE: “Acho um porre ver alguém de porre quando você nao bebe. Outro porre é ar-condicionado e vento forte.”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Frustração é que o filme “E o vento levou” não ter sido da minha época. Se fosse, eu teria feito a Scarlet O’ Hara – menos que isso, nada.”
UM APAGÃO: “Tenho uma memória inacreditável e não me lembro de nenhum apagão.”
UMA SÍNDROME: “Morro de pena quando vejo uma criança com Síndrome de Down e não posso fazer nada.”
UM MEDO: “Não tenho medo. Todos têm medo da morte. Eu nunca tive, afinal todos vamos morrer mesmo: você, eu, meus filhos, meus gatos. Nem de cobra, que acho um dos bichos mais lindos do mundo. Mas claro que eu não gostaria de dar de cara com uma dessas cobras que te comem inteira.”
UM DEFEITO: “Tenho vários defeitos, inúmeros. A minha pontualidade atualmente é um defeito, já que ninguém respeita isso. As pequenas delicadezas estão se acabando, o mundo está muito materializado.”
UM DESPRAZER: “O que é desprazer? Não tenho ideia. Lembrei: alguém pegar os meus jornais e ler antes de mim. Outro é se vou almoçar fora, deixo a roupa preparada de véspera, já que minha arrumadeira está velha e demora muito. Quando separo um figurino e, no dia seguinte o tempo muda, detesto.”
UM INSUCESSO: “Insucesso é nunca ter conseguido ligar nada eletrônico. Toda semana vem um técnico à minha casa ver a televisão, o computador… Quebro tudo, de mau humor.”
UM IMPULSO: “Deus me acuda, nunca teria impulso. A maioria dos que têm impulso faz parte daqueles que não tiveram uma boa educação. As pessoas mais impulsivas são as mais mal-educadas. Se você não tem controle sobre si, quem vai ter?”
UMA PARANOIA: “Sou paranoica com organização, gosto de tudo impecável. Até há certo tempo, fazia muita coisa, como arranjos de flores, por exemplo. Atualmente não faço nada, por viver numa cadeira de rodas, o que dificulta tudo. A vida realmente fica muito mais difícil do que se imagina, principalmente numa cidade como o Rio, onde os cadeirantes só faltam ser escorraçados. Os cariocas não têm preconceito, simplesmente porque eles não têm preconceito com nada. O que os cariocas têm é desrespeito contra quem vive em cadeira de rodas.”
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Enviado por: Lu Lacerda

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