domingo, 13 de maio de 2012


Cidade mineira recria casa onde Pelé nasceu

Berço do jogador ficava no quarto dos pais e tinha bola de espuma para distrai-lo; móveis da casa em Três Corações são originais

Denise Motta, iG Minas Gerais 
Foto: Arquivo pessoalPelé (esquerda) aos 3 anos e sei irmão Jair, um ano; foto de 1943
“Meus três corações quase saíram pela boca”, brincou Pelé em junho do ano passado, quando o Santos conquistou seu terceiro título da Copa Libertadores. A frase foi uma alusão à sua cidade natal, Três Corações, a 300 quilômetros de Belo Horizonte. E é nesta cidade onde uma homenagem ao rei e aos admiradores dele está sendo finalizada.
A prefeitura pretende inaugurar no segundo semestre a réplica da casa onde Pelé, literalmente, nasceu. Naquela época, início de 1940, período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ele era chamado de Dico.
O apelido Pelé só surgiu em São Paulo, Estado no qual ele iniciou sua trajetória profissional de sucesso. O iG teve acesso exclusivo a detalhes e imagens do imóvel, em fase de acabamento e localizado no centro, na rua Edson Arantes do Nascimento, 1.000.
A casa de Pelé precisou ser reconstruída após tantos anos, mas há detalhes originais, como as jabuticabeiras do quintal, que serviam como diversão para o pequeno Pelé e como renda para a família.
De acordo com informações do diretor de Turismo de Três Corações, Fernando Ortiz, Dona Celeste e o Tio Jorge, mãe e tio de Pelé, vendiam jabuticabas em cestas de palha, utilizando uma lata de óleo para medir a quantidade.
“As árvores jabuticabeiras são as mesmas da época em que ele morou, na década de 1940. Também teremos objetos originais. Nossa intenção é tentar passar a ideia de que o Pelé saiu da cidade e a casa parou no tempo”, explica Ortiz, que trabalha há aproximadamente 18 anos do projeto de reconstrução da casa. “Ele nasceu lá (na casa), em 1940, graças a uma parteira, amiga da família. Na mesma casa nasceram a mãe, o tio Jorge eu irmão Jair (Zoca)”, conta o diretor de Turismo.
Réplica reproduz berço de Pelé, de 1940, feito de madeira maciça e com molas. Foto: Fernando Ortiz
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Um objeto que chama atenção é a réplica do berço do rei Pelé, em madeira maciça de lei, conhecida por sua resistência. Ele ficará no quarto dos pais: Dona Celeste e Seu Dondinho, João Ramos do Nascimento, já falecido. Com colchão de palha, a réplica do berço, modelo patente (de mola), contará com uma bola de espuma, do tamanho de uma laranja, brinquedo que distraía o bebê Pelé.
A cozinha com fogão a lenha, cenário de muitas histórias da família, e a oficina do avô de Pelé, para construir carroças e consertar máquinas de costura, também serão refeitas com móveis e peças de antiquários.A casa contará com um rádio antigo, onde serão transmitidos jogos de futebol, radionovelas e músicas da década de 1940.
Orçada em R$ 158 mil (recursos do Ministério do Turismo), o imóvel possui aproximadamente 170 metros quadrados, com quatro quartos ligados por uma sala comprida. No primeiro quarto moravam “Seu Jorge” e “Dona Georgina” avos do atleta; no segundo, os pais, Pelé e o irmão Jair; no terceiro, Tio Jorge (irmão de Celeste). O último quarto era de banho, onde ficava uma bacia utilizada por todos. Já o banheiro, uma fossa, era do lado de fora da casa. Tudo isso já foi refeito. O projeto está 80% pronto, informou a prefeitura.
Móveis de época
Para recriar a atmosfera dos primeiros anos de vida do rei, são levados em consideração detalhes históricos. A mãe de Pelé, Dona Celeste, e o tio, Seu Jorge, foram entrevistados há nove anos, para fornecer detalhes da casa. “Não existe nenhum registro fotográfico da casa original, apenas especulações. Por isso buscamos as informações com a família. O próprio Pelé não se lembra muito porque era pequeno. Os móveis são todos de época, com patentes, colchão de palha e capim; armários, arcas e cadeiras de época; pratos e canecas de ágate e panelas de ferro.”
O imóvel está pronto e detalhes finais estão sendo acertados. Uma das últimas etapas da recriação da casa de Pelé consiste na concepção de uma atmosfera que remeta ao ano de 1944. O trabalho será feito por cenógrafos. Pelé morou na cidade até 1943, passou por São Lourenço, onde nasceu a irmã Maria Lúcia. Em 1945, mudou-se para Bauru, onde, aos 11 anos, em 1951, começou a jogar em um time infantojuvenil.
O prefeito de Três Corações, Fausto Mesquita Ximenes, pretende colocar a cidade na rota da Copa do Mundo de 2014, com a inauguração da Casa de Pelé. Conforme informações da prefeitura, os quartos devem ser isolados com cordas, mas haverá interação do visitante com algumas peças e objetos do local. Ainda não estão definidos detalhes sobre a visitação como cobrança de entradas e valores.
A inauguração está sendo cogitada para 23 de setembro, aniversário de 128 anos da cidade, mas ainda é necessário confirmação do principal convidado: o Pelé. De acordo com o diretor de Turismo de Três Corações, a emoção de reviver os primeiros anos de vida do ídolo do Santos será especial não apenas para fãs ou admiradores do atleta.
Apresentado ao projeto, em 2010, Pelé esboçou um sorriso e repetiu por algumas vezes, conversando consigo mesmo e apontando para o plano que, depois de tantos anos, saiu do papel: “Eu nasci aqui”.
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'É preciso ser forte', diz agricultor sobre pior seca em 47 anos na Bahia

Mais da metade dos municípios baianos decretou estado de emergência; em Feira de Santana, não chove desde novembro; Paraíba e Pernambuco também enfrentam seca

João Paulo Gondim, iG Bahia 
Foto: Divulgação/ Prefeitura de Feira de SantanaSeca em Feira de Santana, Bahia
"Euclides da Cunha tinha razão: o sertanejo é, antes de tudo, um forte. Só com muita força mesmo para aguentar essa seca", diz José Ferreira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Feira de Santana (STRAF) sobre a estiagem que atinge o semiárido.
De acordo com o governo do Estado, essa é a pior estiagem dos últimos 47 anos. Dos 417 municípios da Bahia, pelo menos 231 decretaram estado de emergência. Ao menos 20 cidades, como Miguel Calmon, Várzea Nova, Muquem do São Francisco, Filadélfia e Tapiramutá, cancelaram o São João, principal festejo nordestino.
Outros reduziram de cinco para três os dias de comemorações. Pelo menos 2,3 milhões de pessoas foram afetadas. Na capital, o preço da cesta básica com 12 itens em abril custa R$ 217, 3% superior ao de março.
Segundo o secretário estadual de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária, Eduardo Salles, 90% das produções de feijão e milho, no semiárido, foram perdidas. A colheita de hortaliças foi desperdiçada. No sudoeste, a safra de café foi totalmente afetada. No oeste, a produção de algodão só tem o aproveitamento de 15%.
Moradores de Caetanos (596 km de Salvador) recorrem a poços para recolher um pouco de água. Foto: Futura Press
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Na cidade de Feira de Santana _a segunda maior do Estado, com 556, 8 mil habitantes_ não há chuva desde novembro do ano passado. Distritos como Ipuaçu, Bonfim de Santana e Jagaura decretaram estado de emergência três vezes, desde o ano passado. Estado possuidor do maior rebanho de caprinos do Brasil, e do segundo maior de ovinos, vê, gradualmente, esses animais morrerem de sede.
Para melhorar tal situação, qualquer ajuda é bem-vinda, inclusive a que vem do céu. "Já começaram as novenas para São José. A imagem dele está indo em procissão de município para município", conta o sindicalista. De acordo com a tradição nordestina, orações para o santo podem trazer chuvas para a região.
Soluções mais terrenas são buscadas pelo governo baiano. Secretário da Casa Civil, Rui Costa esteve na quinta-feira passada em Brasília com o governador Jaques Wagner. Eles voltaram da capital federal com a garantia de cerca de R$ 51 milhões para diminuir os efeitos da seca. Essa verba vai ser distribuída em sistemas de abastecimento, construção de cisternas e barreiros.
O Estado aguarda a liberação de crédito emergencial, com valores de R$ 2.500 a R$ 100.000 para pequenos e médios produtores´, a serem quitados em até oito anos. Também foi pedida a suspensão imediata do pagamento das parcelas financiadas pela União que vencem em 2012. A Bahia conta com a liberação de R$ 25 milhões para a compra de equipamentos que ajudem no combate à seca.
Entre as ações, há, ainda, a antecipação, de setembro para junho, do seguro garantia safra, a 85 mil agricultores, em parcelas de 680 por cinco meses. Também está previsto o bolsa estiagem para aqueles que não estão segurados. O executivo baiano vai distribuir 130 mil cestas básicas. A Coneb vai comprar a produção de milho do oeste baiano _que não foi afetada, para distribuir para os flagelados, e comprar o gado para também dar carne aos agricultores.
Rui Costa espera a construção de adutoras que levem á água do rio São Francisco aos municípios e a conclusão do projeto estadual "Águas do Sertão", no qual retira água do Aqüífero de Tucano, em poços de 400 metros de profundidade. A primeira parte R$ 72 milhões. apa final está orçada em R$ 105 milhões. Segundo Costa, que também é coordenador do Comitê Estadual para Ações Emergenciais de Combate aos Efeitos da Seca, tal obra vai resolver o problema de desabastecimento d'água em boa parte dos municípios baianos.
"Tem que haver investimentos em infraestrutura hídrica para melhorar a situação e gerar empregos com as obras e movimentar a economia local, prega Costa. Ele acredita que medidas como essas podem combater a situação crítica que se alastra nas cidades do semiárido da Bahia, como a denominada por Euclides da Cunha, onde vivem fortes sertanejos iguais aos exaltados pelo escritor que a batizou.
Seca em todo o Nordeste
O quadro é de desolação no semiárido nordestino, que enfrenta a pior seca dos últimos 30 anos - desde a dificuldade de água para beber à destruição de plantações e perda de animais. São ao menos 525 municípios em situação de emergência em toda a região.
Em Pernambuco, são 70 os municípios que vivenciam problemas já expressos em alguns números da Secretaria Estadual de Agricultura: na maioria desta área a redução das chuvas foi em média de 75% - chegando até 92% em alguns - e a maioria dos açudes localizados no sertão está com 30% da sua capacidade. A falta de chuva provocou a perda de 370 mil toneladas de grãos. Nos cem primeiros dias deste ano, o número de animais vendidos para fora do Estado é 73% maior que o do mesmo período do ano passado.
O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, decretou estado de emergência em 170 municípios. O número corresponde a 76% das 223 cidades paraibanas. A medida também objetiva apoiar aos agricultores que tiveram suas plantações perdidas devido à seca e apressar a liberação de recursos federais.
O decreto prevê dispensa licitação de contratos para aquisição de bens e serviços necessários às atividades de resposta ao desastre, como locação de máquinas e equipamentos, de prestação de serviços e obras relacionadas com a reabilitação do cenário atingido pela seca.
Segundo dados do governo estadual, mais de 2,6 milhões de paraibanos já foram afetados pela seca. Em abril, o governo federal anunciou apoio aos estados nordestinos para promover ações que minimizem os efeitos da estiagem, como a construção de cisternas, barreiros e sistemas simplificados de água.
 
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Caças da FAB atacam e destroem pista clandestina na Amazônia

Bombas foram lançadas e atingiram o solo a uma velocidade de 550 quilômetros por hora

iG São Paulo  - Atualizada às 
A Força Aérea Brasileira (FAB) divulgou neste sábado que dois caças A-29 Super Tucano da Força Aérea Brasileira atacaram uma pista clandestina a 218 quilômetros de Boa Vista, capital de Roraima. O local foi atingido por bombas aéreas de 230 quilos. O impacto dos artefatos no solo formou crateras de 10 metros de diâmetro e três de profundidade.
Foto: Agência Força AéreaPista clandestina sendo atingida neste sábado
Segundo a FAB, a ação foi acompanhada em tempo real pelo Comando da Força Aérea na Operação Ágata 4. “Esta pista, que era usada pelo garimpo irregular e ajudava a causar danos ambientais naquela região, está interditada. Nenhuma avião consegue pousar ali”, afirma o Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, comandante da FAB na operação. 
A ação foi executada pelos caças do Esquadrão Escorpião (1º/3 º GAV). Foram empregados dois caças A-29 que se aproximaram da pista a 1,2 mil metros de altitude e iniciaram um mergulho até 600 metros, a altitude ideal para o bombardeio. As bombas foram lançadas e atingiram o solo a uma velocidade de 550 quilômetros por hora. O ataque foi muito preciso”, afirma o Tenente Coronel Mauro Bellintani comandante do Esquadrão Escorpião. 
Foto: Agência Força AéreaImpacto no solo formou crateras de 10 metros de diâmetro e três de profundidade
O armamento utilizado é conhecido como Bomba de Baixo Arrasto para Fins Gerais ou (BAFG 230). Com 2,22m de comprimento e 27 cm de diâmetro, o artefato é produzido no Brasil e pesa 500Kg.
A pista destruída tinha 280 metros de comprimento e 15 metros de largura. A Aeronáutica fez o primeiro reconhecimento do local no dia 11 de abril. Foram feitas imagens da pista com auxílio de sensores infra-vermelhos. A seleção da pista que foi destruída é uma ação conjunta da Operação Ágata 4 que envolveu além da Força Aérea Brasileira a FUNAI, a Polícia Federal e o Exército Brasileiro.
Foto: Agência Força AéreaLocais próximos a pista já sofrem desmatamento pela intervenção dos garimpeiros

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Mães de Maio protestam em São Paulo contra assassinatos de 2006

Mulheres que tiveram filhos mortos durante confrontos entre PCC e policiais organizam shows e missa em Santos

Agência Brasil  - Atualizada às 
À véspera da comemoração do Dia das Mães, as chamadas Mães de Maio homenageiam neste sábado seus filhos que foram mortos em decorrência dos ataques de 2006, ocorridos há exatos seis anos em São Paulo e atribuídos a confrontos entre membros da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e policiais.
As Mães de Maio, que foi criado em Santos logo após a série de ataques, programou uma série de atos para este final de semana no litoral paulista. Neste sábado estão previstos shows de rap e de música popular, intervenções culturais, saraus e uma homenagem aos mortos, programada para às 18h, na Praça da Paz Celestial, em Santos.No domingo, foi marcada uma missa na Igreja Santa Margarida Maria, às 7h da manhã, em Santos.
Foto: AEEncontro das Mães de Maio do ano passado
Segundo Rodolfo Valente, militante da Rede 02 de Outubro, uma das entidades organizadoras do evento, a ideia do ato é resgatar a luta contra o extermínio da população jovem, negra e pobre do Brasil, maiores vítimas da criminalidade no país. “Isso já acontecia antes dos crimes de maio, teve esse grande ápice nos ataques de maio (de 2006) e continua até hoje. A ideia é rememorar essa luta e continuá-la”, disse.
“Temos um grande problema no Brasil que é com a verdade. O Brasil vira a página sem esclarecer sua história. Desde a ditadura, os crimes cometidos pelo Estado não foram esclarecidos. Há também o massacre do Carandiru, que faz 20 anos este ano [que resultou na morte de pelo menos 111 presos]
, e os próprios crimes de maio. São todos crimes cometidos por agentes de Estado que não foram punidos. Não há responsabilização. Isso perpetua uma cultura que existe desde sempre no Brasil: de massacre às populações mais vulneráveis”, disse Valente.
Uma das vítimas desses ataques foi Edson Rogério Silva dos Santos, de 29 anos, gari e filho de Débora Maria da Silva, uma das fundadoras da organização Mães de Maio. Segundo Débora, seu filho foi morto por policiais no dia 15 de maio de 2006, na Baixada Santista, depois de tentar abastecer sua moto num posto. Em novembro do ano passado, o Tribunal de Justiça responsabilizou o governo de São Paulo a pagar uma indenização para Débora pela morte de seu filho.
Em entrevista, Débora disse que, passados seis anos dos ataques de maio, os crimes ainda continuam impunes. “Esperamos ainda que aconteça justiça para podermos construir a paz”, disse Débora. Segundo ela, após a onda de ataques, muitas outras mortes, envolvendo principalmente jovens pobres, continuam acontecendo na Baixada Santista. “É a faxina da pobreza que acontece, não só na Baixada Santista, como no Brasil como um todo”, falou.
Essas mortes, segundo Débora, poderiam ser evitadas se houvesse investimento em políticas sociais. “Não se investe em políticas sociais. Por isso continua existindo desigualdade. O governo precisa investir na parte humana das instituições policiais e desmilitarizar a polícia. Só vamos ter êxito contra as execuções sumárias quando se desmilitarizar a polícia. Basta de coronelismo”, disse.
“Estamos gritando há seis anos. Isso não é uma página virada. É uma página virada para ele (o Estado), que não tem filhos que morreram. Mas para as mães não é uma página virada”, protestou Débora, reforçando que o movimento continuará lutando pela condenação dos culpados pelos crimes.
Nos ataques de 2006, ocorridos entre os dias 12 e 20 de maio, 493 pessoas foram mortas, entre elas, 43 agentes públicos. Um estudo feito pela Justiça Global, divulgado no ano passado, apontou que, em 71 casos, houve fortes indícios de terem sido praticados por policiais membros de grupos de extermínio.
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“Primeiro sou mãe, depois mulher”, diz agredida ao retirar queixa em delegacia

iG passa um dia na Delegacia de Defesa da Mulher em São Paulo e constata que é grande o número de vítimas que decidem interromper inquérito contra agressores

Carolina Garcia, iG São Paulo 
Tarefas e situações domésticas corriqueiras podem desencadear episódios violentos no ambiente familiar. Uma camisa passada fora do lugar foi o que bastou para o marido de *Milena, de 36 anos, a agredir em agosto do ano passado. “Ele não achava a camisa. Mostrei para ele onde estava e notei que havia guardado no lugar errado do armário. Ele então me agarrou e bateu minha cabeça contra o móvel várias vezes", contou. O local correto da camisa para *Welington, de 40, era duas gavetas acima.
O caso pode espantar por sua motivação banal. É ainda mais assustador o índice de mulheres que sofrem violência doméstica no País, seja de natureza física ou psicológica (agressão verbal). No ano passado, segundo o caderno complementar do mapa da violência, mais de 48 mil mulheres foram atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS) com sinais de agressão. Desses casos, quase 70% aconteceram na residência.
Foto: Carolina Garcia / iGDóris com seu bebê de 15 dias durante oitiva com a escrivã na DDM, no centro de São Paulo
Milena sabe que não está sozinha. Ela tem amigas em sua vizinhança, no sul da capital, que sofrem com o mesmo problema. Em janeiro, em um domingo pela manhã, ela sentiu que algo mudaria. Sua filha de um ano e cinco meses estava no berço e febril e, por isso, o café da manhã não ficou pronto no horário de costume. “Ele puxou o meu cabelo e disse: ‘Você é uma inútil, vai ver o que vou fazer’. Achei que ele fosse me matar.” Foi quando a criança chorou. “Sem saber, minha filha me salvou.”
Ela então decidiu fugir com a filha para Caraguatatuba, cidade do litoral paulista. Não tinha amigos e nem família no novo endereço. “Queria esquecer tudo o que tinha me acontecido”. Porém, logo reconheceu que nunca conseguiria apagar “as surras” que levou - tanto pela cicatriz em possui em sua testa como pelas inúmeras investidas de um Wellington “transformado e apaixonado”. Até hoje, ela diz não saber como ele a encontrou.
“Ele não me deixaria em paz, então voltei para São Paulo e fui denunciá-lo”. Decidida, registrou a denúncia contra o companheiro em março, dois meses após a última agressão, na 1º Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), no centro da capital. E foi lá que conversou com a reportagem na última quarta-feira (9), quando foi intimada para dar continuidade ao inquérito.
Ao acompanhar o depoimento de Milena, ficou claro que ela só havia relatado parte de sua história. Ela decidiu omitir a primeira agressão física sofrida em agosto de 2011 (que a impediria de retirar a queixa), revelada à reportagem antes do início da oitiva. “A senhora precisa de testemunhas do fato (da ameaça) para dar continuidade ao processo contra seu ex-parceiro. Quem podemos chamar?”, questionou a policial. “Doutora, não tenho ninguém para falar sobre isso”, disse Milena. Antes, ela havia contado que sua irmã sabia do perfil agressivo do ex. Sem alternativas e visivelmente frustrada, a escrivã afirmou que o inquérito não poderia avançar diante da ausência de provas.
Foto: Carolina Garcia / iGDelegada Celi Paulino trabalha há 25 anos como titular da Delegacia de Defesa da Mulher
“Você vai ter que retirar a queixa, é isso que você quer?”, disse a policial continuando a questionar sobre a possível volta do casal. Milena então decidiu retirar a queixa e ainda pediu desculpas pelo “trabalho dado” aos policiais. Em resposta, recebeu: “O problema não é o trabalho, mas você continuar apanhando em casa”. Nesse momento, ela deixou a sala em silêncio e de cabeça baixa. Ao iG, antes de deixar a delegacia, Milena afirmou acreditar no arrependimento de Welington. “Ele se transformou depois do B.O. Paga pensão todos os meses. Se o visse na rua, poderia até se apaixonar.”
Dependência psicológica
“O Estado precisa investir mais em creches, escolas e abrigos. Com uma melhor estrutura, poderíamos convencer a vítima a tentar e dar mais uma chance para a própria felicidade”, explica a delegada titular da 1º Delegacia de Defesa da Mulher, Celi Paulino Carlota.
No período de três horas, pelo menos seis mulheres revelaram ao iG que estavam na delegacia para retirar as queixas contra os companheiros. Para muitas, “manter a família unida” é a principal motivação na hora de interromper um processo. Já outras mulheres definiram que o inquérito se tratava apenas de “um mal entendido”.
Os reais motivos, segundo Celi, oscilam entre dependência financeira e dependência psicológica. “Além de pensar que não irá oferecer o mesmo conforto para os filhos, depois de tantos insultos, a mulher acaba se diminuindo e acreditando que realmente é inferior. É necessário um processo de apoderação da mulher e, para isso, tem de existir um pesado trabalho psicológico”, defende a delegada.
Celi ainda reforça a importância de psicólogos e psiquiatras nas DDMs do País. Na 1º Seccional de São Paulo, por exemplo, o serviço psicológico é oferecido apenas uma vez por semana – nas quintas-feiras – em horário comercial.
Sonho? Voltar a trabalhar...
Na quarta-feira, dia que a delegacia não contava com a equipe de psicólogos, muita vezes composta por estudantes de psicologia, *Dóris, de 30 anos, havia agendado um horário com a delegada. Delicada e excessivamente calada, a presença dela era dificilmente notada na sala de espera. Com todas as cadeiras ocupadas, algumas mulheres compartilhavam suas histórias. Dóris, no entanto, permanecia quieta e, envolvida em uma peça de crochê, carregava seu recém-nascido de 15 dias.
Boliviana, ela contou que chegou ao Brasil há 11 anos e conheceu o marido há três anos em uma fábrica de costura. Também boliviano, segundo Dóris, teve “uma vida difícil e sofrida” e, por isso, mantinha “pensamentos antigos e atitude machista”. O casal tem cinco filhos e é na frente deles que ela apanha e recebe chutes do companheiro. “Ele só pede comida quentinha e roupa lavada, mas às vezes não consigo fazer tudo.”
Leia outros casos no País: 

Rio de Janeiro: Bombeiro é preso suspeito de manter a namorada em cárcere por 15 dias 
Minas Gerais: Polícia indicia suposto estuprador após 15 anos do crime 
Mato Grosso: Falso estagiário de medicina é preso acusado de abusar de mulheres em MT 


Dóris não sabe dizer quantas vezes apanhou ou sofreu ameaças em casa – caso pense em nova separação. Ela já tentou deixa-lo e fugir de São Paulo. Na época, grávida de seis meses, encontrou abrigo na casa da irmã, na cidade de Cachoeira Paulista, interior do Estado. “Ela poderia oferecer um quarto, mas só depois que eu pedisse medida protetiva contra ele. Acho que ela tinha medo dele.”
Quando pensava que poderia voltar a trabalhar, atividade suspensa pelo marido após o nascimento do primeiro filho, Dóris notou alguns machucados e marcas de cinto em seus filhos. “Minha irmã batia neles. Não consegui aceitar isso, briguei com ela e fui expulsa de sua casa”. Com a gestação alcançando o oitavo mês e sem destino, procurou o marido que a aceitou de volta, mas com uma condição. “Prometi que retirava a queixa contra ele. Eu posso suportar a dor e faço isso pelos meus filhos. Eles não podem pagar pelo meu erro.”
Assim como Milena, Dóris apenas contou à polícia sobre as ameaças que recebia do marido e que isso teria sido sua motivação para fugir. Durante seu depoimento, a escrivã explicou a necessidade de convocar testemunhas para dar substancialidade ao processo. Dóris então repetiu o discurso de Milena e afirmou que não teria testemunhas. Porém, assumiu que havia reatado com ele há um mês e meio.
“Agora não tenho condições de pedir separação ou fugir, preciso pensar mais nos meus filhos. E acabei acostumando com o machismo dele. Primeiro eu sou mãe, depois mulher”, disse enquanto arrumava a roupa do filho e explicando que a ausência de amor e carinho é superável. Durante seu casamento, segundo ela, apreendeu da pior maneira que a relação sexual pode ser usada como recurso para manter o ambiente tranquilo em casa.
"Ele não me dá amor e carinho, não me toca sem interesse. Apenas usa o meu corpo para satisfazer suas necessidades e descarregar suas frustrações". Dóris contou que o único momento que encontra a felicidade é dormindo. “Quando sonho, me vejo sorrindo e trabalhando. Feliz, assim como eu era quando mudei pra cá.”

Cordão causou enforcamento de ator morto na Paixão de Cristo, diz perícia

Segundo a polícia, equipamentos emprestados pelo Corpo de Bombeiros não apresentaram defeitos; Thiago Klimeck interpretava Judas em encenação de Itararé, interior de SP

iG São Paulo  - Atualizada às 
Perícia da Polícia Civil de Itapeva indicou que o ator Thiago Klimeck, morto durante encenação da Paixão de Cristo na cidade de Itararé, interior de São Paulo, foi sufocado pelo cordão que prendia seu figurino. A túnica usada não era presa nas encenações anteriores, mas o ator decidiu amarrá-la com cordão semelhante a um cadarço de náilon, explicou o delegado de Itararé, José Victor Bacetti.
Foto: Sandro Azevedo/Virtual GuiaAtor Thiago Klimeck em cena da Paixão de Cristo, encenada em Itararé
A polícia utilizou manequim com características semelhantes às do ator e os mesmos equipamentos da encenação para realizar a perícia concluída nessa quinta-feira. Segundo o delegado, os equipamentos cedidos pelos bombeiros para a encenação não apresentaram nenhum defeito.
“A conclusão era esperada e confirma o laudo do IML (Instituto Médico Legal)” diz Bacetti. Segundo ele, o cordão já havia sido apontado como causa do acidente pelas testemunhas ouvidas durante o inquérito.
Entenda o caso
Durante apresentação teatral da Paixão de Cristo na sexta-feira dia 6 de abril, o ator Thiago Klimeck se enforcou acidentalmente. Ele interpretava o personagem Judas Iscariotes e se confundiu com os nós das cordas no cenário.
O ator, de 27 anos, que estava em um cenário que imitava uma pedra, ficou quatro minutos desacordado. Os demais atores não perceberam de imediato o acidente, porque o ator deveria fingir que estava morto.
O fotógrafo Sandro Azevedo, que estava presente durante a apresentação e registrou a cena de Thiago, disse que poucas pessoas que assistiam ao espetáculo perceberam o que ocorrera.
"É uma situação complexa, porque o papel dele era fingir o que acabou acontecendo de verdade. Ele não se debateu, nem nada. Ele desceu uma escadinha, montada como se fosse uma rocha, e saltou de lá. Abaixou a cabeça, como se não tivesse acontecido nada."
Segundo Sandro, depois que uma atriz colocou um véu na cabeça de Thiago, algumas pessoas que estavam em volta começaram a estranhar que o ator continuava na mesma posição. "As pessoas estranharam e chamaram a Guarda Municipal. Eles cortaram a corda e levaram para o hospital."
Socorrido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Klimeck foi internado em estado grave na Santa Casa da cidade. O ator morreu no domingo, 22 de abril, no fim da tarde, segundo informou a Santa Casa de Itapeva em nota.
Tiago estava internado há 17 dias em estado grave na UTI do hospital da cidade vizinha e permanecia em coma profundo e respirado com a ajuda de aparelhos desde o incidente, ocorrido no feriado da Sexta-Feira da Paixão.
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